quinta-feira, 7 de agosto de 2008

INOVAÇÃO: sobram recursos, falta iniciativa

Márcia Lira
marcialira@folhape.com.br

Motoristas ganham mais tempo no trânsito do Recife porque boa parte dos semáforos passou a ser sincronizada. Cariocas vão poder alugar eletronicamente bicicletas em vários pontos da orla do Rio de Janeiro. Advogados perdem menos processos por causa de um software que mapeia todos os diários oficiais do País em busca de informações. Uma solução bloqueia e rastreia carros roubados, permitindo a recuperação quase imediata dos veículos. O nome disso é inovação. Esse termo que parece distante tem tudo a ver não só com o seu dia-a-dia, mas com o desenvolvimento do Brasil, ainda mais quando o assunto é Tecnologia da Informação. Nesta reportagem, entenda o porque e como Pernambuco está inserido nesta nova realidade. Dinheiro para inovação não falta. Aliás, sobra. No ano passado, o Governo Federal disponibilizou nada menos que R$ 450 milhões para projetos inovadores na Subvenção Econômica - uma das linhas da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) - e sobraram cerca de R$ 116 milhões. Isso porque não existiram projetos que atendessem aos pré-requisitos mínimos para aprovação. A grande vantagem da subvenção é que os recursos não são reembolsáveis.

São “doações” para empresas explorarem novas idéias capazes de gerar um produto ou processo para aumentar sua competitividade e fazer a diferença no mercado. Ou seja, inovar. Seis áreas são consideradas prioritárias na linha de financiamento de Subvenção Econômica, uma delas é Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Dos R$ 450 milhões, R$ 80 milhões foram destinados para o setor no ano passado. No edital da linha de 2008, cujas inscrições estão encerradas, também foram disponibilizados os mesmos valores. De acordo com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, o total solicitado pelas propostas inscritas foi de R$ 10 bilhões. “A quantia mostra maior interesse. Dificilmente vão sobrar recursos este ano”, afirma. O resultado com as selecionadas da primeira chamada será divulgado no início de agosto.

Na opinião do diretor-presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, nas sobras dos recursos para inovação o empresariado brasileiro demonstra um nível de qualificação insuficiente. “Hoje, inovação é condição de sobrevivência para uma empresa. E TI é o principal instrumento de inovação”, afirma, citando uma pesquisa da universidade Mackenzie, que comprovou a responsabilidade do setor em 35% na eficiência produtiva das empresas. E na busca por competitividade, a figura do pesquisador é considerada fundamental.

No entanto, os empresários ainda não criaram a cultura de investir em pesquisa. Na avaliação da diretora de Inovação da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), Fátima Cabral, a maioria acredita que contratar um profissional é um custo e não um investimento. “O perfil do pesquisador é de um curioso, com formação de mestre e doutor, que tem o conhecimento de ponta. É uma pessoa que está atenta às oportunidades e vai saber onde é possível explorá-las”, observa. E completa: “Quem não investe nisso, acaba sendo engolido pelo mercado porque hoje, com a globalização, seu concorrente não é o vizinho, ele está no mundo todo”.

Compartilhando da opinião de Fátima, o ministro Sérgio Rezende acredita que é preciso ver que adotar a busca de novas possibilidades é um risco que vale a pena. “Nem sempre a pesquisa leva a um produto novo. Mas quando isso ocorre, a empresa tem um mercado aberto para ela”, frisa. Para Rezende, a Lei de Inovação, de 2004, é um marco do avanço brasileiro na política de Ciência e Tecnologia. A regulamentação facilita a interação entre academia e empresa, abrindo caminho para as corporações contratarem pesquisadores e usar laboratórios “do mundo iluminado e distante das universidades”, como brinca Saboya.

FONTE: http://www.folhape.com.br/folhape/materia.asp?data_edicao=05/08/2008&mat=104918

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