sexta-feira, 26 de março de 2010

Sem inovação, só resta a morte - Entrevista Silvio Meira

Sem inovação, só resta a morte - Entrevista Silvio Meira

Entrevista publicada no Jornal do Commercio em 07.10.2009

O cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Silvio Meira, acredita que inovação é fundamental para a sobrevivência das empresas. De fato, ele chega a comparar o conceito ao processo evolutivo proposto por Charles Darwin. “Inove ou morra”, diz, incisivo. Em conversa com o repórter Jacques Waller, Meira diz que Pernambuco conseguiu estruturar o ambiente acadêmico, mas agora é preciso melhorar o cenário de negócios para que o Estado se torne exportador de inovação. Ele destaca ainda que os grandes empreendimentos conquistados, como o estaleiro e a refinaria, são, na verdade, um grande desafio ao espírito inovador local. “Seremos somente uma economia industrial tardia”, provoca. Confira abaixo a entrevista.
JC – O que é inovação? Quais seriam bons exemplos de inovação tecnológica?

SILVIO MEIRA – Inovação é algo muito complicado de definir, mas se abstrairmos certos elementos, podemos chegar na seguinte definição: inovação é uma mudança no comportamento dos agentes de mercado, enquanto produtores e consumidores. E é algo que só ocorre no mercado. Quer dizer, se eu tiver uma grande ideia no laboratório, essa ideia, por si só, não é inovação. Inovação é deixar de comprar livros na livraria para comprar na Amazon, por exemplo. A tríade MP3, internet e Torrent modificou o jeito que se consome música. Assim como a tríade PDF, internet e e-paper vai mudar radicalmente o mercado editorial nos próximos anos. Carro a álcool foi uma inovação. E veja que não é porque algo é inovador que não vai ter problemas. Carro a álcool foi problema por 15 anos. Eu sei porque tive um.

JC – Qual o papel da inovação na economia?
SILVIO MEIRA – A inovação é a única forma de garantir a sobrevivência em longo prazo. E quando falamos em longo prazo, devemos lembrar que no Brasil todo ano temos o chamado dissídio. Isso significa que todo ano os funcionários têm aumento de salário, independente de aumento de produtividade. E para garantir que haja aumento de produtividade, tem que ter inovação, para melhorar produtos e processos. Se eu tenho uma perda de 30% em algum processo e diminuo para 10% através de inovação, houve uma evolução. Inovação é um processo darwiniano. É evolução das empresas. Um mercado não passa de uma ecologia. É um processo natural de competição e cooperação para sobreviver.
JC – Pernambuco pode se tornar um exportador de inovação?
SILVIO MEIRA – Qualquer lugar que combine conhecimentos, e não só conhecimento nas universidades, mas na cadeia de valor, pode ser exportador de inovação. O Porto Digital, por exemplo, é uma inovação a partir de Pernambuco. Mas não é para Pernambuco. Não dá para fazer as coisas para o Estado, ou para o Brasil. Tem que fazer para o mundo. Tem que investir e empreender para o mundo. Imagine se a Microsoft decidisse dominar o mercado de governo de Seattle, nos Estados Unidos? Eles certamente seriam a maior empresa de Seattle, mas não teriam o tamanho que têm hoje. Pernambuco tem que pensar para fora. Um empreendimento como Suape apenas toca Pernambuco, porque toda a cadeia de valor deles já vem de fora. Mas será que tem algo nessa cadeia que podemos liderar? Porque inovar significa que você é líder em algo, ou seja, você cria valor de forma mais significativa do que todo o resto do mercado. E pra isso é necessário algo que se faz muito pouco no Brasil, que é empreendimento.

A falta de alternativa para empreender acaba capturando uma parte significativa da inteligência brasileira. Temos que atrair essa inteligência. E temos que atrair investidores. Precisamos de uma cadeia de investimento aqui, de repente até insumos estatais que podem durar décadas. Agora, não adianta apenas botar recursos. É necessário dar capacidade de alavancagem. Empreendimento e investimento local são primordiais, mas de classe global.
JC – O que é necessário para isso acontecer?

SILVIO MEIRA – O Estado precisa apostar na criação de fundos de investimento locais para a geração desse espaço de empreendedorismo, para atrair este empreendedor e fazê-lo criar negócios em Pernambuco. Todos os Estados vêm investindo em conhecimento e Pernambuco fez isso muito bem. Agora, é preciso proporcionar condições para que as pessoas queiram empreender e investir aqui.

JC – E quais são os desafios para criar uma economia de inovação?

SILVIO MEIRA – Pernambuco foi desindustrializado e está sendo reinserido no contexto industrial agora. São empresas que estão aqui, mas que têm zero por cento de suas decisões tomadas localmente. E isso vai gerar um grande desafio. Pernambuco vai ser apenas uma região industrial tardia? Além disso, fábricas agregam muito pouco valor. A fábrica que atualmente é a mais interessante, quer dizer, que não polui e é econômica, simplesmente não emprega. Nos países desenvolvidos, essas fábricas são apenas 20% dos empregos e da renda. Esses países mandam as fábricas para a periferia e retêm seus centros de desenvolvimento. Na China, por exemplo, fica só o custo de produção e o mínimo do lucro. O resto vai para a sede, onde o produto foi desenhado. Este é, aliás, o desafio de Toritama. A cidade tem que deixar de ser provedora de costura para investir em marca e design.
JC – O que é preciso para estimular uma cultura de inovação?
SILVIO MEIRA – É muito simples. Basta convencer todo mundo que para sobreviver é necessário evoluir. Inove ou morra! Simples assim.


FONTE: http://www.pernambucoinovador.com.br/noticias/ler/17

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